Oi, vagabunders!
Estava olhando as respostas aqui no formulário do Pergunte Para a Vagabunda e surgiu uma questão que achei interessante para comentar, enviada por uma talvez futura amante. Segue o relato:
Oiii, na verdade eu tenho uma confissão a fazer, e gostaria muito que você fingisse ser muito minha amiga e me apoiasse no erro ou simplesmente me desse um fecho daqueles que me fizesse mudar de ideia e concepção (esperando demais, será?).
Bom, tenho uma amiga muito amiga da minha melhor amiga. A gente ficou algumas vezes, e eu gostei muito dela, porém, na época, achava ela muito nova, bobinha. E agora ela está namorando e sinto muita atração por ela, e por muito tempo sentia que ela sentia também, mas achava que era coisa da minha cabeça. Até que um dia, em um bar, entre conversas alteradas e trocas de olhares — pra mim, sem compromisso, pra ela, um risco —, ela me mandou a seguinte frase no zap: “Por que sempre é assim?”.
Quando recebi, quis pular de alegria, porque toda essa nóia era real, estava ali na minha frente. Nada aconteceu, mas ficou aquela energia de se pegar escondido, muito caliente.
Eu sempre odiei traição e ser amante, mas estou sentindo coisas muito fortes. Vou tentar ser samaritana nesse quesito, mas acredito que não vai passar. E, sinceramente, eu só quero ver ela novamente e continuar esse flerte escondido, e no fundo do meu coração, espero que isso não seja gostoso só porque é escondido.
Bem, vamos lá: se eu fosse você, eu seria a amante. Quem esperava uma resposta diferente disso, sinto desapontar, mas o nome dessa newsletter já entrega a minha escolha.
Viver uma fantasia, um caso proibidinho, é gostoso demais. Não sei se essa quentura que vocês sentem acontece só pelo fato dela ser comprometida, mas isso adiciona sim uma carga de adrenalina na relação — e a gente precisa disso na vida. Quanto mais você pensa que é errado, mais essa vontadinha cresce, adiciona novas camadas de interesse na pessoa. Ficamos obcecadas com o que parece inalcançável.
Minha visão sobre traição mudou muito de quando eu era adolescente pra cá. Eu pensava que nunca trairia e que jamais perdoaria uma traição, pois mente fechadinha, né? Acreditava na fantasia do felizes para sempre, da alma gêmea, de que você precisa de apenas uma pessoa na sua vida e ninguém mais vai lhe interessar. Pois na primeira oportunidade que tive, traí. A vida é isso aí, morder a língua e ver suas crenças desabarem conforme a vida acontece.
Principalmente depois dos 30, traição virou um tema que me dá preguiça, e já falei sobre isso aqui antes. Colocam a talaricagem como a pior coisa que podem fazer a você num relacionamento quando existem questões muito piores (como abuso e violência, sabe?). Esse medo de não ser “a pessoa mais importante” da vida de alguém demonstra um ego enorme e inseguranças maiores ainda que jamais agregam algo positivo ao relacionamento. E enxergar o relacionamento alheio como sagrado, também, não deve nem ser sua preocupação — quem sabe do relacionamento é quem faz parte dele, e muitas vezes nem eles sabem nada, né? Porque vivem de acordo com o que é estabelecido pela cultura e pela sociedade, muitas vezes fruto de conceitos religiosos feitos para manter as pessoas na linha, e não para elas sentirem prazer.
Vocês claramente têm uma atração uma pela outra. Talvez a sua tenha se intensificado justamente pelo fato dela estar “indisponível", ou essa relação dela a deixou mais “madura” aos seus olhos. Não dá pra explicar por que a atração acontece, apenas aceitá-la. Porque assim: você vai se privar de algo que quer muito fazer, e pelo jeito ela também? Não vai bater o arrependimento depois de não ter feito nada? Ou lidar com esse arrependimento é mais tranquilo para você do que lidar com a culpa de ter sido uma fura-olho?
Outra coisa a se pensar é o que você idealiza desse flerte. Você não precisa “roubar” ela desse namoro, virar a oficial. Às vezes fogo no rabo é só fogo no rabo mesmo, e tá tudo certo, e ela vai querer continuar no relacionamento em que está tendo esse segredinho que é só dela. Ninguém vai morrer por causa de um flerte escondido ou de uma transinha boa feita no sigilo. Eu acho mesmo que o proibido deixa as coisas mais interessantes, a gente tem esse anseio de sair um pouco dos trilhos do que a sociedade exige, de viver uma fantasia, pra não cair na mesmice da vida.
Então meu conselho é: se não consegue segurar o tesão por ela, vai, pega, se diverte, mas sem drama e sem esperar algo além disso.
Se você também quer um conselho, um pitaco, discutir um tema específico aqui nesta newsletter, é só enviar sua questão aqui no formulário:
Xepa do Engajamento
Como disse algumas edições atrás, fui convidada a conhecer a pousada Canto do Ilé, lá em Paraty, e gravei um vídeo com indicações de leitura para quem estiver descansando por lá. Como foi bom ter sido blogueira por um fim de semana aproveitando as benesses do lugar, viu? Podem me chamar pra mais rolês assim.
Então fica aqui o vídeo e o pedido para engajarem pra eu ter a chance de fugir mais vezes de São Paulo, rs.
Uma dica
Muito bom esse vídeo do Thiago sobre como consumimos informação como se fosse fast-food. Ele começa falando do filme Uma família feliz e do conceito de “cold open", quando a história começa pelo final ou com um corte seco entre a primeira cena e o restante da história que deixa aquele desejo de saber o que vai acontecer. E daí, de repente, ele te dá uma lapada na cara falando sobre esse consumo exacerbado de informações em que a galera não absorve o que é dito, uma lógica muito criada, também, pelas redes sociais em busca de fisgar a atenção. Eu falei uma vez em algum texto aqui da newsletter que hoje a gente não para pra mais checar as coisas que vemos na internet. As redes condicionaram a gente a consumir sem questionar, e a receber tudo de mão-beijada também — vide galera no BlueSky reclamando que lá não tem conteúdo como no finado Twitter, sendo que esse povo não sabe sequer pesquisar a informações que querem ou o tipo de perfil que vai entregar o que esperam. Enfim, assistam.
Eu estou devendo uma edição sobre minhas últimas leituras para vocês, né? Vou tentar escrever algo sobre os livros que li na semana que vem, mas não prometo muita coisa. Mas é isso, mais uma semana passou, sobrevivemos. Pra encerrar, uma imagem do gato Horácio descansando na cadeira onde eu queria estar sentada para ler:
Tchau!
O problema da traição é a quebra de um pacto. Se estão numa relação monogâmica, então a traição é sim uma forma de desrespeito. O melhor seria conversar sobre isso e tentar uma relação aberta. Quem está numa relação tríplice e de repente aparece uma quarta pessoa em segredo haverá tambem uma quebra de pacto. A traição é para alem de relações 1-1. A Maria Homem (procurar no youtube) tem vídeos ótimos sobre isso. O que dói numa traição é a quebra do pacto que se tem um com o outro. Mesmo tendo outros problemas como violência doméstica, a traição não deve ser tratada como uma coisa banal. Não é apenas um segredinho. Ela magoa o outro. Ela machuca. Precisamos ter confiança nas pessoas que nos rodeiam, seja em relações amorosas, profissionais e familiares.
“Às vezes fogo no rabo é só fogo no rabo mesmo, e tá tudo certo” (vagabunda, 2024)