sou meio vagabunda, mas sou boa pessoa #109
E aí, meus queridos?
Semana passada acabei não fazendo a newsletter pois, no dia em que geralmente monto ela, eu estava vivendo meu dia de princesa em um spa. Mereço, né?
Hoje quero falar um pouco sobre minhas últimas leituras e dar as famosas dicas para vocês. Aproveitem.
Hospício, paraíso e um zepelim
Desisti total de ficar fazendo vídeo de resenha para o Instagram ou TikTok. Falei isso lá nos stories quando me perguntaram por que eu não estava postando mais. O motivo é claro: não vale a pena o esforço para criar um conteúdo bacana lá para dar dinheiro pro Mark Zuckerberg enquanto meu alcance, engajamento e seguidores só caem. Então foda-se aquela porra.
Decidi, então, concentrar os comentários sobre livros que leio aqui, assim que me der vontade de falar sobre. Espero que curtam.
O crime do bom nazista, de Samir Machado de Machado, foi uma daquelas leituras que me divertiram horrores. Fazendo uma homenagem às clássicas histórias de crimes whodoit?, como as de Agatha Christie e Arthur Conan Doyle, o romance é narrado por Bruno, um policial nazista em viagem para o Rio de Janeiro no LZ 127 Graf Zeppelin em 1933. Símbolo do luxo e da tecnologia alemã, o dirigível reúne uma seleta clientela cheia de gente rica e escrota. Mas o embarque no Brasil de um misterioso passageiro, e uma consequente morte, transforma a viagem em uma aventura investigativa.
Samir tem esse jeito inteligentíssimo de narrar que consegue juntar diferentes temas em uma coisa só: os diálogos esdrúxulos travados entre os nazistas, que combinam tanto com o discurso bolsonarista; as observações astutas de Bruno, que muitas vezes parece se esquecer de que lado da história está; as questões da luta homossexual da época. Gosto muito como ele traz esses detalhes para relatos históricos e aventurescos que entregam muito mais do que isso.
E a grande curiosidade do livro é: que porra é essa de “bom nazista”? E é aí que vem o grande trunfo: Samir engana a gente como ninguém. Não consegui de forma alguma antecipar o desfecho do livro, e quando ele chegou eu só fiquei assim: É ISSO AÍ, PORRA! Que leitura gostosa, que entretenimento bom. Só leiam O crime do bom nazista.
Dez dias num hospício é um relato real escrito por Nelly Bly, que em 1883 recebeu do jornal World (o do Pulitzer) a tarefa de se infiltrar no “asilo de lunáticos” de Blackwells Island para contar a realidade das internas. Com apenas 23 anos, Nelly conseguiu ser internada no local e denunciou os maus tratos das pacientes, que muitas vezes não tinham um problema psicológico sequer.
Eu não conhecia a história de Bly, que escreveu importantes reportagens após a experiência em Blackwells Island, muitas vezes assinando com um pseudônimo por ser uma mulher. É um relato bem direto, seco, destrinchando todo o seu percurso e todas as suas falhas — como o fato de três médicos terem declarado que ela estava louca sem fazerem um exame detalhado. É um livrinho curto, rapidíssimo de ler e bem impactante.
Noite no paraíso estava aqui aguardando a leitura desde o ano passado, e tinha esquecido total dele até semana passada, quando bati o olho dele na estante. Essa é mais uma reunião de contos de Lucia Berlin, autora de Manual da faxineira, que eu amo imensamente. Quando saiu, vi gente falando que achou esse mais fraco, mas assim: amando todos os contos do mesmo jeito que amei o Manual.
Eu amo a atmosfera que Berlin cria nos textos, é como se você estivesse em cada um dos cenários que ela descreve: o Texas, o México, Nova York, Santiago… Esse livro tem um prefácio do seu filho mais velho, que reforça como a vida de Berlin foi combustível para suas histórias, e por mais que você a reconheça facilmente entre as personagens, a repetição de certos temas, você sabe que não importa o que aconteceu de verdade. Se tudo foi real ou não. O que importa é a história.
E eu gosto de todos os textos: os que falam sobre o despertar amoroso de uma adolescente gringa no Chile, os que tratam do conturbado relacionamento com um viciado em heroína, aqueles que narram apenas um dia qualquer na vida de uma família… Berlin é uma grande observadora, todo mundo pode ser sua personagem. São temas tão comuns, tão universais, apresentados de maneira tão bonita e fácil de ler.
Outras dicas
Acatei da dica que a Bela deu no Ppkansada e fui ver Sequestro no Ar, da AppleTV. Estrelada pelo Idris Elba, é exatamente o que o título diz: um avião é sequestrado indo de Dubai para Londres, e a série acompanha as sete horas de duração desse voo. Aí você conhece mais dos passageiros, vai juntando as peças para entender o que está acontecendo. Achei divertida.
E aí no embalo, depois de terminar Sequestro no Ar, fui ver For All Mankind, que eu tinha começado meses atrás e nunca continuei. É uma série de ficção científica que especula como seria a corrida espacial caso os soviéticos tivessem chegado à Lua primeiro. É uma série bem PROPAGANDISTA, né, o poder e o sonho americanos, aaaaah, que preguiça. Mas relevando isso tudo, é super divertida. Tem também na AppleTV.
Xepa do engajamento
O livro de agosto no Clubize vai ser Caminhando com os mortos, de Micheliny Verunschk. Para participar do clube de leitura, é só assinar por R$10!
Teve Santa Reclamação de Cada Dia essa semana e eu respondi uma reclamação da ouvinte que quer casar para não ter que trabalhar. Só ideia errada.
É isso, gente. Obrigada por lerem até aqui! Esta newsletter é um produto gratuito da Odelli Corporation, mas se você acha que ela merece um apoio financeiro, é só vir em Pledge Your Support e deixar sua contribuição. Agradecida!
Fiquem agora com uma foto dos bichos.
Tchau!
Ando com esse mesmo sentimento do instagram. Desde janeiro nao posto minhas resenhas :(
Amei essa primeira dica e ja anotei aqui. Parece o livro ideal pra uma ressaca literaria