Não tenha medo de ser solteira
Uma coisa que eu jamais entenderei é quando alguém diz que tem “medo de ficar solteira". Recebi essa numa caixinha de perguntas no Instagram alguns dias atrás. A pergunta dizia:
“Tai, tenho tido muito medo de ficar solteira. O que tu pensa sobre isso?”
Foram três stories para responder, porque esse é um tema que eu posso passar horas falando sobre (e já falei sobre isso recentemente, aliás). E agora, em mais uma newsletter, porque considero que esse assunto nunca se esgota.
Então, o que eu acho sobre isso?
Acho que é a coisa que você deve ter menos medo na vida. Aliás, eu, que passei a maior parte dos meus 34 anos solteira, tenho mais medo de querer estar com alguém do que o contrário.
Por exemplo: alguns meses atrás, quando eu percebi que estava gostando muito de um cara e alimentando fantasias de ficar com ele como um casal, minha reação foi ter uma crise de choro. Eu sei o quanto gostar de alguém pode ser doloroso, porque minhas experiências geralmente não foram lá muito felizes. Amei pouquíssimas pessoas, e geralmente esse amor não foi correspondido. É o clássico, né: por que ninguém quer ficar comigo? O que me falta para alguém me olhar e dizer “caralho, mulher foda, quero passar um bom tempo da minha vida com ela"?
Esse é um sentimento que ainda não tive, acredito. Não daqueles de quem eu esperava alguma coisa em troca. Gostar é bom, mas gostar, pra mim, está num lugar mais de dor e expectativas frustradas do que de maravilhamento. Tanto que tive uma crise de choro, tanto que eu, ao perceber que queria estar com alguém, pensei logo que essa pessoa iria embora, porque é o que geralmente acontece (e aconteceu ¯\_(ツ)_/¯).
Acho que me desviei um pouco do assunto, mas voltando ao fato de ser solteira e o pavor que as pessoas, principalmente mulheres, têm disso. Os momentos mais tranquilos da minha vida são aqueles em que eu não tenho interesse amoroso por ninguém. Quando eu não me sinto solitária, porque as relações que tenho já me bastam, e a minha própria companhia me basta. Eu não consigo conceber a ideia de que a vida só vale a pena, ou de que a vida está ganha, quando você encontra um par, como se isso fosse um video game em que você tem que ir conquistando coisas para passar de fase.
Aliás, o modelo em que as relações se baseiam é sempre esse, né? Você tem etapas a cumprir, desafios a superar para chegar na fase final e zerar o jogo. E se você não comprar essa história, você não vai ter uma vida plena. O que me leva à conclusão de que muitas pessoas namoram e casam mais para mostrar essa “vitória” para os outros do que por se amarem de verdade. Para não receber olhares de pena dos casados, que te acham uma coitada porque está “encalhada" — como se muitos não estivessem encalhados e afundados até o pescoço em um relacionamento ruim.
A gente foi criada pra ter medo de ser solteira. Olhe para como o mundo trata as mulheres e veja como as vantagens pra gente, principalmente quando nos relacionamos com homens, são mínimas — se você for seguir o padrão dos padrões do relacionamento. Minha cabeça sempre volta pra Silvia Federicci e o que ela diz sobre esse sistema criado para oprimir mulheres. Porque uma mulher livre, que não depende de um homem, é perigosíssima, aparentemente. Lembro do que ela diz sobre os ganhos e perdas numa relação de casamento entre sexos opostos, em que a mulher recebe apenas afazeres e obrigações em troca de “segurança”, e o homem ganha uma prestadora de diversos serviços gratuitos. Tudo em nome do “amor".
Lembro das reportagens com mulheres centenárias em que, quando perguntadas sobre o segredo da longevidade, disseram que não ter se casado foi fundamental, pois não passaram estresse. Quer vida mais tranquila do que não precisar se preocupar com homem? Pô, eu tô é de boas com isso. E só vou querer estar num relacionamento quando tiver certeza de que eu não vou ter que lidar com um homem bundão.
A gente pode ter avançado em algumas coisas, mas ainda sofremos com a violência contra a mulher, ainda nos rebaixamos e anulamos para agradarmos aos caras que queremos ter do nosso lado, ainda somos tratadas como “coisas" a serem possuídas. Neste cenário, correndo tantos riscos de entrar num relacionamento abusivo e violento, como que ficar solteira pode ser um medo? Como que pode ser ruim ser independente, auto-suficiente, dona de si?
Claro, uma hora bate o cansaço de não ter alguém do seu lado para te dar uma mão. Mas isso passa, e pra mim nada é mais caro do que a minha liberdade e autonomia. E a não ser que você encontre um cidadão que te enxergue do mesmo jeito que ele enxerga os seus “brothers" — ou seja, te trata como um ser humano igual, e não como uma provedora de serviços —, essa liberdade vai ser limitada de alguma forma no relacionamento.
Deixando minha amargura de lado, isso não quer dizer que eu não acredito no amor. Eu acredito, ainda quero vivê-lo, por menores que sejam as minhas esperanças. Só que enxergo o amor de uma forma totalmente diferente do que os manuais de relacionamento ditam. Não, eu não quero enfrentar todas as intempéries do mundo para encontrar um par. Eu não quero “amarrar” alguém. Eu não acho que amar significa sofrer, e que você tem que ceder em tudo para fazer a relação funcionar. Eu não acho que “brigas” fazem parte do rolê. Eu não acho que o cônjuge é a pessoa mais importante da minha vida e eu tenho que mudar toda a minha rotina para me encaixar na dele. E quando você fica nesse desejo de encontrar alguém para não estar sozinha, as chances de você cair numa roubada dessas são enormes. Porque esse medo da solteirice te cega para vários sinais que estão sendo mostrados, mas você não quer ver porque precisa com todas as forças estar num relacionamento. Isso não é saudável nunca, e jamais vai ser.
Quando me bate a carência, faço a auto-análise: isso é cansaço meu em ter que dar conta de tudo sozinha? Isso é fogo no rabo? Isso é uma comparação com amigos que namoram e parecem super felizes, e aí me pego desejando ter o que eles têm? Geralmente essas perguntas já vêm com uma resposta embutida, e ela não é buscar um namorado. Idealizar o romance perfeito. Forçar a situação para que isso aconteça. Não é a validação de um namorado que vai me salvar.
E aqui vai aquela máxima clichê: o amor vem quando você menos espera. Não adianta procurar, sair em mil dates, alimentar expectativas com todo e qualquer cara com quem você cruza. A gente pode se poupar de muita merda e de conhecer gente sem sentido se parar com esse desespero de obter matrimônio. Vai por mim: ser solteira é a última coisa com que as mulheres deveriam se preocupar. Escutem os conselhos das velhinhas centenárias, e não se junte com qualquer homem porque isso é o que se espera de uma mulher. Não tenha medo da sua liberdade.
Dicas
Fui ver Priscilla ontem no cinema (obrigada, Diana, por me lembrar do Belas Artes por 10 reais), e apesar de não ter achado um puuuuta filme, foi legalzinho. Gosto da Sofia Coppola, mas depois de ter visto tantos biopics nos últimos anos, tá me dando um tanto de preguiça. Mas sim, filme bonito, boas atuações, deu pra sentir a solidão da pobre Pri Presley em estar num relacionamento merda.
Agora, um biopic que gostei foi Oppenheimer. Que hétero, né? Mas acho que aqui o filme trouxe narrativa, porque não segue uma ordem cronológica e temos realmente um clímax aí — tem treta política, tem questões éticas, tem uma coisa sendo construída, sabe?. Gostei demais das atuações e sei lá, como telespectadora me senti mais entretida.
Outra coisa assistida que gostei bem foi Slow Horses, série da Apple TV que tem três temporadas. Série de espionagem daquelas bem cheias de ação, com personagens rabugentas e desgostáveis — te amo, Gary Oldman. Tava com saudade de ver uma sériezinha britânica. Fica a dica para passar umas horinhas se divertindo.
Xepa do engajamento
E voltamos com o Ppkansada na semana passada com um episódio sobre Metas para 2024. Quem não ouviu, por favor vai ouvir pra ter um pouquinho mais de esperança — adianto que já estou melhor do que estava quando gravamos, rs.
E é isso, meu povo. Pô, obrigada demais pelas respostas da última news, me deu um quentinho no coração e ânimo. De verdade.
Antes de dizer tchau, queria lembrar que abri um formulário para vocês enviarem perguntas, sugestões de temas e pedidos de conselhos, não que eu seja lá uma ótima conselheira, rs. Já recebi algumas respostas e vou organizar as próximas edições para responder!
Beijos, e até a próxima!
Obrigada demais por tu ter escrito essa news! Falou o que eu penso e preciso ouvir pra ter certeza de que não somos loucas e amargas, mas sim sensatas. ❤️❤️❤️❤️
Fui contemplada demais com essa news! Obrigada por escrever bem demais, Taize! Já estou ansiosa para que o seus planos de escrever um livro se concretize!