sou meio vagabunda, mas sou boa pessoa #156
Como ter o mínimo de esperança estando rodeados por imbecis?
Não houve newsletter na semana passada porque, bem, eu não estava no clima para escrever no contexto de apocalipse. Como pensar direito com o calor extremo agravado pela fumaça das queimadas que tomaram o Brasil? Olhava pela janela e via um céu acizentado de fumaça e, dependendo do horário, um Sol vermelho que poderia muito bem ser tomado como um sinal do fim. Ficamos no topo da lista de cidades com o pior ar para se respirar, e mesmo São Paulo sendo conhecida nacionalmente pela sua poluição, vimos como é possível ficar ainda pior. Eu não queria escrever, queria era jogar os papeizinhos pra cima e dizer “chega dessa merda”. '
Vi muita gente falando sobre como não podemos perder as esperanças diante desse cenário de destruição. Pessoas compartilhando matérias que mostram como a China conseguiu recuperar seu céu azul com o plantio de mais árvores nas cidades e diminuindo a emissão de poluentes, dizendo que é possível sim reverter esse cenário. Gente dizendo que não podemos desanimar frente a mais essa ameaça à nossa sobrevivência. Eu concordo com essa galera, mas assim: é muito difícil.
Óbvio que não devemos cair no discurso ecofascista de que apenas o colapso total e a redução da raça humana vai salvar o planeta, a gente sabe pra onde esse tipo de crença leva. Mas também não dá pra negar que, se estamos morrendo lentamente respirando gás carbônico solto pelas queimadas, é porque tem gente filha da puta demais no mundo — que faria um bem danado se simplesmente desaparecesse. No apocalipse, nossos pensamentos são, também, apocalípticos. Faz parte.
A desesperança vem da nossa incapacidade de pensar numa solução para o futuro do planeta sem recorrer ao meteoro — uma solução rápida, simples e justa para resetar o ecossistema, funcionou muito bem com os dinossauros. Sim, temos muitos ativistas que fazem um trabalho incrível no combate ao desmatamento, às mentiras, à opressão de povos indígenas e demais minorias exploradas pelas grandes empresas do agro. Temos políticos engajados e preocupados com fazer a coisa certa para que todos tenham uma vida digna. Só que essa galera não chega nem perto de ter os recursos que quem está canibalizando o nosso país tem. Como lutar contra isso, onde encontrar forças para pensar positivo?
No âmbito político, então, a desesperança só cresce. Desde que acharam de bom tom deixar maluco se candidatar a cargos públicos, sem um psicotécnico pra saber se a pessoa sabe diferenciar A de B, o negócio só foi ladeira abaixo. Olha o caos que está as eleições municipais aqui de São Paulo, onde a galera está mesmo sem saber em quem votar porque acredita que o Boulos vai invadir a sua casa, e do outro lado tem Pablo Marçal, um dos maiores trambiqueiros que surgiram nos últimos anos, que pra muita gente é preferível à “ameaça comunista” (que nunca existiu no Brasil). Nosso cérebro foi corroído pelas mentiras espalhadas na internet, estamos bem longe de chegar a uma solução quanto a isso, sem mídias regulamentadas e protegidas de pessoas mal-intencionadas.
Tem como reverter o que está acontecendo aqui. Só que, pra isso, as pessoas têm que querer trabalhar para que a recuperação aconteça. Tem que eleger quem se preocupa de verdade com o nosso bem-estar, o bem-estar público e privado, e não o bem-estar do mercado. Tem que regulamentar as redes sociais, tem que dar um fim a candidatos e políticos que usam o aparato público para ganho próprio. Tem que prender urgentemente o Bolsonaro e sua turma depois de tudo o que fizeram nos quatro anos em que ficaram no poder. E nada disso foi feito ainda. Nada disso parece andar pra frente, porque essa galera chegou a um nível de poder e influência alto demais pra gente conseguir se reerguer rápido.
Como ter esperança? O povo tá burro, sem saber em que ou no que acreditar, se agarrando a cada nova teoria conspiratória lançada pelo PL para tentar dar sentido à sua vidinha medíocre. Você pode mostrar todas as provas possíveis de que essa lógica que adotaram não faz sentido algum, mas as pessoas não vão te ouvir, porque já se comprometeram demais com a linha de raciocínio que decidiram seguir. Quem é sensato, fica cansado de ter que repetir as mesmas coisas na esperança de que, um dia, essa gente caia na real. Eu tô cansada, meu cérebro não sabe mais como lidar com gente imbecil, e é por isso que tá difícil manter uma postura confiante de que conseguiremos botar as coisas nos eixos.
Pra ler e ouvir
Desde a live do Linkin Park apresentando a nova vocalista, Emily Armstrong, voltei no túnel do tempo para a minha adolescência e ando apenas ouvindo Hybrid Theory e Meteora, os dois primeiros álbuns da banda e os meus favoritos — como devem ser os favoritos de 90% dos fãs de Linkin Park. Mas gostei muito da música nova também, “The Emptiness Machine". Ouve aí que tá bom.
O Davi Rocha falou sobre como o conteúdo digital é efêmero enquanto relembra grandes clássicos da internet (e sim, tenho todos eles na memória porque minha cabeça é ótima com coisa inútil)
Como seria o mundo sem Instagram? O Gabriel Pardal deu uma refletida aqui:
Reciclagem de conteúdo e nostalgia (ou newstalgia) foi o tema da newsletter do Felippe Cordeiro. Cadê as coisas novas?
Marie Declercq fez um ótimo texto sobre observar o fim de uma era (o Twitter) e o nascimento de uma nova comunidade digital no BlueSky impulsionada pelos brasileiros.
A Lyara Vidal escreveu sobre o que está por trás da trend de querer ter “cara de rica" — esse texto ainda vai render uma edição aqui, porque ando pensando nele há dias.
A newsletter Resumido falou sobre esvaziamento de conteúdo e vício nos estímulos das redes sociais. Lê aqui.
É isso aí, galerinha. A mente da palhaça está em frangalhos, mas pelo menos fomos agraciados com uma cadeirada (fraca, acho) nos corno do Pablo Boçal. Acho que foi isso o que me deu forças para escrever isso aqui em plena segunda-feira de manhã.
E para encerrar, vou apelar para Patolina, a gata da chefa, que adora meu colo.
Tchau.
é difícil ter esperança, porque - a cada vez que a gente acha que chegou ao fundo do poço - um alçapão se abre.
Olá Taize. Realmente, que dia, que Brasil, que inferno isso que estamos vivendo. Eu que moro na capital do Agro (MS), só sinto angústia e, infelizmente não vejo saída. O Pantanal está chegando num nível de destruição irreversível e muitos, muitos animais morreram... fico triste a angustiado de verdade. Uma bosta esse mundo que estamos vivendo e não vejo saída, tanto de uma consciência humana (se a COVID não conseguiu incentivar uma empatia em nível significativo entre nós, não serão as queimadas, infelizmente, que impulsionará isso) e na representatividade política, sem comentários. A única alegria foi ver os diversos memes da cadeirada do Datena. Realmente, essa cena entrou para a história!
Uma curiosidade: achei interessante essa formação de retorno do Link Park. Eu que tive a oportunidade de ver a banda no auge, saindo da adolescência, realmente foi nostálgico. Mas, não sei se vc sabe, e aqui entrará a curiosidade, não se sabe se a Armstrong tem alguma ligação com a Cientologia, mas ela defendeu o ator Danny Masterson, condenado por estupro e ele sim é ligado nessa religião, fora que antes da prisão, parece que ele propagandeou muitas ideias fascistas. Bom, entonces, com tudo isso e fora o sentimento hater que ela já despertou, não acho que esse "novo" Link Park vai engrenar. Enfim, suposições pop. Bom, foram dois paragrafos meio desconexos que eu escrevi, mas a cabeça aqui também está um caos!
Axé e até a próxima coluna :D