Capítulo 1
A pior história de amor é aquela que não acontece. Um amor que fica só na promessa, no campo das expectativas e da imaginação. Naquele poderia ter sido que não foi.
Um amor desses não vai embora fácil. Ele fica martelando na mente por anos e anos, porque promessas só vão embora depois que são cumpridas. Não esquecemos as promessas feitas, nem as que fazemos, nem as que fazem pra gente. Quando o amor é uma promessa, ele apenas cresce, não deixa, nunca, de existir. Você pode esquecer momentaneamente, abafar os ecos daquilo que gostaria que tivesse acontecido. Mas jamais consegue expulsar de vez o sentimento, arrancá-lo da mente ou do coração — seja lá onde o amor mora dentro de você.
Eu tive um amor desses. E por mais que anos tenham se passado desde que admiti que esse amor realmente não aconteceria, lá no fundo ele ainda existe, com uma pequena esperança de que talvez, um dia, por uma piada sem graça do destino, ele possa voltar. Não vou mentir, me pego pensando nisso às vezes. Como aquelas histórias de amantes separados por alguma adversidade da vida que se reencontram 50 anos depois, velhos e desimpedidos, podendo finalmente ficar juntos até morrerem abraçados numa cama.
Não tem adversidade aqui. Não aquelas trágicas, impossíveis de contornar. Tudo nessa história é contornável, manejável, manipulável. A vida não é essa coisa que a gente não tem nenhum controle em absoluto. Podemos ter controle sim, de certas coisas, mas nunca sobre o outro. Mas sobre nós mesmos, sim, dá. Exige esforço demais, e o problema está aí. Esforço não é algo que todo mundo tem.
Mas aqui não tem rixas familiares ou acidentes fatais, ou então grandes distâncias físicas. O que tem são desencontros de expectativas e de desejos, as coisas mais simples que fazem com que histórias de amor não aconteçam.
Conheci ele de um jeito vergonhoso. Na internet, em um fórunzinho nerd que hoje relembro com certa ironia. Mas na adolescência a gente precisa desses lugares para se sentir minimamente especial. Para falar daquele livro que “só nós conhecemos”. Destrinchar significados sobre uma pedra no meio do caminho. Era de um lugar desses que eu precisava para desassociar da vida comum em uma cidade onde não tinha nada.
Na época eu tinha zero interesse nele. Era uma jovenzinha apaixonada por outra pessoa que eu pensava, na época, que seria o grande amor da minha vida. Como uma grande consumidora de novelas, era essa a visão que eu tinha do amor: o primeiro que você encontra é o que vai durar para a vida toda.
Não são só as novelas que colocaram isso na minha cabeça. Era também algo familiar, social, a narrativa do amor perfeito e do encontro das almas. Só esqueceram de me dizer que na maioria das vezes em que as almas se encontram, elas colidem, ricocheteiam, se aproximam e se afastam como aquelas bolinhas de borracha que encontramos nas rodoviárias, quicando pelas paredes e no chão. A bolinha quica alto em qualquer superfície, e sua rota é difícil de adivinhar. É assim que as almas se encontram: pulam de um lado para o outro, e é difícil que se encontrem paradas, juntas, no mesmo lugar.
As nossas nunca estiveram no mesmo lugar. Em disponibilidade, em localidade. E quando se encontraram, foi por acaso. E foi breve. Mas foi o bastante para ficar martelando aqui até agora.
Mas e aí?
Gente, que coisa esquisita é reler algo que escrevi semanas atrás. Me dá certa vergonhinha, sabe? Dá vontade de mudar tudo. Mas vou seguir desse jeito, porque se eu não mandar de vez, eu nunca vou mandar.
A imagem que abre a news é uma pintura de Jean Leon Henri Gouweloos, “La toilette". Me mandaram esses dias uma pintura dele que parecia comigo, e acabei conhecendo o resto e gostando bem. O banner da news também é um pedaço de um quadro dele.
Enfim, estou feliz que vocês gostaram da volta da newsletters. Obrigada todo mundo que respondeu e quem acabou assinando a newsletter depois do e-mail de “retorno". <3
Bem, quando vocês estiverem lendo isso eu já 1- estarei com 32 anos e 2- estarei vacinada. Que combo de acontecimentos maravilhosos, esse.
Momento Links
Vi esse na news do Moreno e amei: o PornHub fez uma linha do tempo da pornografia do passado, do início do século XX. É curioso demais.
As Olimpíadas têm sido meu alimento noite e dia.
Que saudades do Boechat. <3
Esse site fez um tweet bosta depois no fogo na estátua, mas esse post sobre a “restauração” da fonte do Parque Buenos Aires é bom. O resultado, olha… Protejam as fontes, e queimem estátua de cuzão sim.
Queres morar na maior laje da América Latina? Tá uma bagatela.
Momento divulgação literária:
A Companhia das Letras tá querendo me matar com esses lançamentos:
No último PPKANSADA eu e Bela comentamos casos de família da audiência. Ouve aí!
É isso! Beijos, obrigada por ler, compartilhem se gostarem, e fiquem com a foto de bicho de encerramento.