Intolerância religiosa sim
Eu tento ser uma boa pessoa que respeita as diferentes escolhas de vida do povo que habita o mesmo lugar que eu. Afinal, podemos coexistir em nossas diferenças, a pluralidade de visões e vivências é uma coisa maravilhosa, há tantas maneiras de pensar sobre a nossa existência… Mas acho que tá na hora de deixar essa tentativa de elevação moral de lado, já que o fato de eu ser mulher significa, para muitos religiosos, que eu sou um objeto que deve ser controlado.
Eu sou uma mulher que decidiu não ter filhos. Não quero engravidar, não sonho em ser mãe, não tenho a menor pretensão de constituir uma família e repassar meu DNA para algum outro ser vivo. Nunca quis, essa ideia nunca me atraiu. Para a bancada evangélica/cristã que ocupa o Congresso do Brasil, eu sou aquele tipo de mulher que iria direto para a fogueira por me recusar a servir aos homens. Olha, entre a opção de ir para a fogueira e viver com um homem tendo que parir os filhos dele, a fogueira me parece menos dolorosa. Por isso que, se eu não sou respeitada em minhas vontades, eu quero mais é que o crente/cristão morra da forma mais violenta possível.
Não me interessa que ensinamentos a sua religião te trouxe, o quanto esses dogmas inventados por uma cabecinha problemática pavimenta a sua vida, se a sua religião diz que mulheres devem ser obedientes, castas, mães amorosas e esposas dedicadas (e você acredita piamente nisso), eu não respeito nem a sua religião e nem você. Não te considero um bom cidadão, só mais um inútil que é incapaz de sobreviver sem sugar a vida de uma mulher ou várias mulheres que, na sua concepção, estão aqui para te servir.
Não é possível que pensamentos assim existam em pleno 2024 e sejam “respeitados” em nome de uma “liberdade religiosa". Da boa educação com o coleguinha. Ainda mais num país em que vemos diariamente grupos cristãos tentando controlar a nossa sexualidade e nossas escolhas. Que liberdade é essa que quer se meter na minha vida dizendo o que eu posso ou não fazer com o meu corpo? Boa educação é o caralo, cuida aí dos teus filhos feios e me deixa em paz.
Agora, criminalizar o pastor trambiqueiro ninguém quer, né? Desfazer o crime organizado de Jesus não é interesse de nenhum desses cristãos preocupados com a moral do povo. Porque essa galera aí não quer saber de viver uma vida plena com Deus no coração. Deus, pra eles, é só um fantoche usado para justificar as barbaridades que maquinam em suas cabecinhas. Deus, meus queridos, está morto. Acredita na fantasia quem quiser, mas não queira que eu respeite essa sua escolha burra e retrógrada.
“Ah, mas a religião é tão importante…” Psh, cala a boquinha. Sua religião, seu Deus, seus santinhos do pau-oco, seu caralho não são nada perto da minha vida e da minha segurança. Foda-se que seu Deus é adorado há milhares de anos, que sua seita do coração tem milhões de adeptos. Isso não legitima nada do que seu livro fictício diz. Esse romance muito mal-escrito vem atravancando a minha vida desde que eu nasci, e não aguento mais essa papagaiada de “amor ao próximo”. Se meu próximo quer que eu morra, eu gostaria de ser capaz de matar ele primeiro em legítima defesa.
Não preciso falar aqui de todas as violências cometidas pela Igreja Católica, contra outras religiões e contra crianças. Nem sobre a curiosa união entre neopentecostais com a milícia e o crescente número de pastores sendo flagrados estuprando alguém. Nem citar os absurdos vomitados por líderes religiosos que vão contra qualquer Constituição. A Bíblia sempre foi usada como justificativa para a prática da opressão, tortura, violência e segregação. Tá na hora de parar com essa merda. Parar de respeitar quem não nos respeita, parar de dar mordomias para grupos religiosos que já deveriam estar enterrados e esquecidos no passado.
E você, que só enxerga sentido na vida se acreditar num ser espectral que tudo vê e tudo ouve, que se considera “bom” porque ama Jesus, que justifica sua fé dizendo “ah, essa igreja aí não me representa…". Representa sim. Você está confabulando com um negócio que sempre pregou a obediência da mulher e o controle sobre seu corpo. Tá dando dízimo pra um provável estuprador que usa seu poder de “líder espiritual” pra tirar uma casquinha de cada fiel que chega no templo. Você provavelmente vê as maiores barbaridades sendo ditas e cometidas, e não tem culhões para retrucar por medo de ser deixado de lado pelo seu grupinho espiritual. Achar que todo mundo do seu culto é gente de bem é a mais pura ingenuidade. Tão velho quanto Deus é o uso que fazem dele para controlar e oprimir. Você faz parte desse problema sim, porque você mantém essa merda funcionando.
Enquanto líderes religiosos continuarem tratando as mulheres como penduricalhos menos dignos do que o pau de um homem, eu serei contra a existência dessas religiões. Pra mim, são o que há de mais criminoso na nossa sociedade: gente que quer controlar um grande número de pessoas fazendo terrorismo mental, prometendo coisas que essas pessoas nunca vão receber (Paraíso é um bairro de São Paulo, fora isso, não existe), sugando o pouco que elas têm para construírem suas opulentas igrejas. Foda-se o Papa, o ayatolá, o pastor, o padre, o rabino, e que todos vão para o inferno com que tanto sonham. Só vou ser feliz quando o crente acabar, ou quando ele finalmente tirar seus dedinhos sujos da minha vida.
Vamos às dicas
Começando com um livro que todo mundo deveria ler agora para ver o que será do futuro das mulheres caso o Brasil continue permitindo que política se misture com religião — não, não somos nem um pouco “laicos" como estado, o fato de permitirem que religiosos se candidatem é a maior prova disso. Tortura branca (Instante, tradução de Gisele Eberspächer) é uma reunião de entrevistas com prisioneiras da moral iraniana feita por Narges Mohammadi, Nobel da Paz de 2023. No Irã, as mulheres são consideradas “metade de um homem” por lei. Elas não têm liberdade, não podem se manifestar, não podem sair sem véu, não podem dançar e se divertir em público. E isso, minha gente, é o sonho de todo religioso. E as mulheres que ousam protestar acabam como Narges: presas, torturadas, abusadas, sem contato algum com a família e os amigos, sem direito a um julgamento justo e defesa. Por isso a gente grita, se desespera, quer que alguma coisa seja feita agora para nos dar segurança: não falta muito para o Brasil virar um país fundamentalista como o Irã se esses vermes da bancada evangélica e seus amiguinhos continuarem existindo.
Eu não tava ligada, mas tem uma segunda temporada da série 100 Foot Wave, série documental que acompanha os surfistas de ondas gigantes, principalmente as de Nazaré. Na primeira temporada, eles contaram como Nazaré virou o destino certo para surfar esses enormes paredões de água, e agora a série acompanha os campeonatos, a preparação dos surfistas e seus dramas pessoais. Tem imagens belíssimas, e não me canso de ficar vendo a galera descendo essas ondas monstruosas. Que doidera deve ser ver isso de perto. Disponível no MAX.
Minha amiga pessoal e colega ppker Bertha Salles está com podcast novo, o Amor ao pé do ouvido, onde ela narra histórias calientes dos ouvintes. Me diverti horrores ouvindo o primeiro episódio, como é maravilhosa a Bertha, affe. <3
E voltou minha novelinha dos dragões! A casa do dragão voltou com a segunda temporada no último domingo, já gostei bem do primeiro episódio. Tá prometendo bastante baixaria e tretas. Lá no MAX também.
E é isso. Quem se ofendeu, repense aí seu Deus. E foda-se, não acredito nele mesmo e nem em você. Não venham tentar me catequizar porque eu já sou crismada, tá? Já os que também odeiam crente e não aguentam mais, esse é um espaço seguro para vocês xingá-los.
Fiquem bem, e até semana que vem.
Tchau.
Eu sou muito crentofóbica, sim. De saco cheio dessa gente.
"(...) não aguento mais essa papagaiada de “amor ao próximo”. Se meu próximo quer que eu morra, eu gostaria de ser capaz de matar ele primeiro em legítima defesa". Adoro esse seu jeitinho haha.
Eu, que fui da igreja evangélica por dez anos irrecuperáveis da minha vida (dos 14 aos 23), me senti realizada nesse seu texto. Hoje, quando um crente tenta me evangelizar na rua ou no bus (esse povo tá em todo lugar, né?), digo logo que sou satanista. Gosto de ver suas caras de horror hahaha.