sou meio vagabunda, mas sou boa pessoa #28

Olar, amigos!
Acho (um acho bem grande) que posso considerar o ano encerrado. Pelo menos no âmbito profissional, que as coisas mais tensas que estavam para acontecer já aconteceram. Só que dois meses para o fim do ano ainda é muito tempo para dar merda, então não vamos cantar vitória tão cedo. Mas aquele clima gostoso de fim de ano já chegou. Pode ser o horário de verão, pode ser a decoração antecipada de Natal, os planos para o fim do ano sendo feitos etc.

Aliás.
Como falei em outra newslettinha, é das coisas acabando que eu gosto, o que até combina com o tema de hoje. Já adianto que não será muito animado. Mas eu tento compensar depois com os links. :P
Vamos lá?
A long time ago, we used to be friends...
Nesses últimos dias me bateu uma bad por motivos de: afastamento. De amigos, de ex-peguetes, de ex-namorados... De repente notei como eu mantenho pouco contato com gente de quem já fui muito próxima, e de como isso me parece estranho quando conheço tanta gente que, ao menos na aparência, conseguem manter as pessoas nas suas vidas, ter boas relações com elas.
Eu nunca me importei muito em manter as pessoas por perto. Não sei se é por temer algum tipo de dor, mas minha estratégia sempre foi usar o agora famoso ghosting. Ir me afastando aos poucos, demorando para responder mensagens até chegar ao ponto de simplesmente não responder mais. É um jeito de dar um recado sem precisar dizer palavra - e o algoritmo do Facebook ajuda demais nisso, a falta de interação vai diminuindo ainda mais o contato com quem não quero manter ter contato. E conforme o tempo passa, eu realmente esqueço que algum dia tive algo de íntimo com aquela pessoa. E quando lembro é com espanto: como conseguia arranjar assunto? Como me sentia confortável com ele/ela? Agora nenhuma dessas coisas parece ser possível, quando reencontro alguém com quem antes tive uma grande amizade ou algo amoroso/sexual, as interações são carregadas de constrangimento. E eu não suporto o constrangimento.

Por isso sempre fui afastando o máximo possível, tentando manter uma distância segura para não ter que lembrar dos momentos, nem dos bons nem dos ruins, e não ser atingida pela vida atual que a pessoa leva. Mas nesses últimos dias essa estratégia não me pareceu boa ou saudável. Comecei a ter medo de ser completamente abandonada por todo mundo, até daqueles de que sou próxima agora. Cheguei a visualizar esse futuro ainda distante em que lembraria de cada pessoa com quem já tive contato na vida, onde os veria com seus parceiros, famílias, amigos, e eu estaria sozinha em um apartamento afastado e escuro, em total silêncio. Ok, bem dramático, mas meu cérebro funciona de forma dramática, não consigo evitar isso.
Hoje, quando cheguei no trabalho, tinha uma mensagem no Skype do meu primeiro ex. Fiquei surpresa, claro, mas era só um spam, provavelmente o moço pegou um vírus. Mas sabe, só de ver o apelido dele piscando no monitor já foi um choque. Fazem cinco ou seis anos que eu sequer falo com ele. Vi uma foto dele aqui ou ali, mas não tenho mais notícias dele, não sei o que ele faz da vida, não sei se está feliz ou não. Às vezes realmente esqueço que tive um relacionamento de cinco anos com ele. Não consigo lembrar dos momentos bons desse relacionamento, só do final - que não foi exatamente ruim, mas foi aquela coisa que a cada dia ficava mais decadente, anunciando o fim definitivo. Lembro da falta de interesse que fui desenvolvendo por ele enquanto aumentava o interesse por outra pessoa. E aí, depois de alguns meses do término, o corte total de relações. Não lamentei isso. Acho que ainda não lamento. Mas não deixa de ser chocante o fato de ainda existir formas dele aparecer na minha vida, mesmo que seja na forma de um spam numa plataforma que eu sequer lembrava que ele ainda existia.
E aí começo a pensar se eu realmente não guardo ressentimento dessas pessoas, e se é por isso que eu me afasto delas. Porque sempre me digo que esse afastamento é possível porque a ausência delas não me dói, o que logo deve significar que não guardo nenhum rancor ou qualquer tipo de sentimento por elas. Mas indiferença não é algo exatamente bom. Na verdade, é bem o contrário disso. Estaria eu tão ressentida que me esforço para bloquear qualquer sensação ao saber da vida daquela pessoa que não está mais na minha vida?

Mas aí vem outra questão: é saudável manter todo mundo na sua vida? Nem que seja por um contato mínimo possível?
Tive uma conversa sobre isso com alguém numa festa na última semana, sobre como é "libertador", de certa forma, bloquear alguém com quem você teve algo depois que esse algo acaba - quem falava isso era ele, não eu. Mesmo quando o término é amigável, mesmo que você não esteja exatamente sofrendo pelo fim, há uma necessidade de se afastar mesmo, de parar de ver a pessoa em todo lugar, no Twitter, no Instagram, no Facebook, nas marcações de amigos etc. É como se não desse para terminar com alguém se ele ainda aparece a todo tempo na sua vida, como um pop-up chato.
Essa conversa me lembrou desse texto aqui, que coincidentemente ressurgiu na TL dias depois, sobre como os ex-relacionamentos continuam existindo como fantasmas por causa da internet. Você pode stalkear toda a vida da pessoa, saber detalhes sobre o dia a dia dela sem nem ao menos precisar conversar. Você começa a comparar sua vida com a dela, ver o que está diferente, até, em alguns casos, fazendo um ranking de quem está ganhando ou perdendo com o término. Você vê tanto essa pessoa que é como se não tivessem terminado. Ela ainda está ali, o tempo todo, te lembrando de que algo existiu entre vocês e isso não existe mais, o que pode ser bem doloroso de aguentar. E se você esconde ela de alguma forma do seu feed, ainda existem maneiras de acompanhar o que ela faz, porque há uma ridícula ética virtual que diz que é feio sair bloqueando ou deixando de seguir pessoas por aí, e por isso você ainda mantém ela na sua lista de amigos e seguidores.
I’m as nosy and judgmental as the next social-media masochist; I just need to steel myself before ex encounters. And so, during afternoon lulls and late at night, I sometimes navigate to the URLs of their public-facing Twitter, Facebook, and Instagram feeds. I start at the top and scroll down, binge-reading backward the fractured narratives of their lives. Has his sense of humor changed? Did he finally download emoji? Who are these new people in his life? I may click their names and open their profiles in new browser tabs, the equivalent of a stack of books by a bedside table, but every book is a person’s life, and “snooping” might be more accurate than “reading.” And “fantasizing” might be more accurate still, since I’m ultimately poking around their lives to see how it might feel to live there again for a little while.
Por isso, talvez, bloquear a pessoa possa ser uma boa estratégia. Existe uma série de comportamentos que são mais auto-sabotagem do que edificantes, e a internet tem todas as ferramentas para te ajudar a se auto-sabotar. Depois dessa conversa e de reler esse texto, acho que aceitei que esse afastamento é, no fim, a melhor coisa a se fazer. Pessoas se juntam e se separam o tempo todo (amorosamente ou apenas na amizade), e pode ser difícil no começo entender que aquela pessoa que antes tanto queria sua presença agora não acha você assim tão interessante. Acho que isso o que me dói mais: descobrir que não sou mais tão interessante. Por mais que eu queira ficar de boas, manter uma relação saudável, às vezes o melhor para mim mesma é simplesmente desistir de continuar fazendo parte da vida dos outros, deixar de seguir, não procurar saber de nada. Ainda vou me sentir completamente abandonada e ficar triste com isso, mas né, outras pessoas aparecerão.

(Ps.: Perdão pelo textão down, mas isso estava mesmo me incomodando ultimamente.)
Links
Começando os links com muita alegria de viver: o gato que invadiu uma aula e caiu no sono.

SPEAK, MEMORY: When her best friend died, she rebuilt him using artificial intelligence.
Um casamento temporário faz mais sentido do que um casamento pelo resto da vida
Momento auto-promoção: última resenha no blog foi de Enclausurado, do McEwan, que é ótimo. Aliás, que senhor, o evento aqui em São Paulo foi daora, pena que não consegui tietar. Outra coisa bacana envolvendo esse livro é que ontem estava na Saraiva, vi um cara olhando com dúvida pra ele e convenci a comprar. FIRMA, PAGUE MINHA COMISSÃO.

Ontem saiu o vídeo de Someone to lose, do Wilco. ❤
18 histórias de mansplaining tão ridículas que chegam quase a ser engraçadas
De 1901 a 2016: o prêmio Nobel por categoria, gênero, idade e nacionalidade
Momento firma: Saiu podcast da Companhia das Letras e tem entrevista com Bernardo Carvalho e mais (que, aliás, está de blog e site novo).

Awesome people hanging out together: Lin-Manuel Miranda e Jeff Tweedy na estreia de Hamilton em Chicago. Essa imagem aquece demais o meu coração.
É isso!
Acho que pela primeira vez na história dessa newsletter eu não consegui colocar aqui tudo o que queria falar: aquele quarto episódio da terceira temporada de Black mirror; Repeteco, do Bryan Lee O'Malley, que acabou de chegar no Brasil; como Tobias, de Arrested Development, me representa (e George Michael também); e outras coisas sobre a vida... Como já está gigante, isso fica para a próxima - me cobrem. Encerramos com o Horácio em todo o seu garbo e fofura em potência máxima.

Até mais e obrigada! :D
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