sou meio vagabunda, mas sou boa pessoa #111
Oi, gente!
Queria começar agradecendo todos os feedbacks que recebi sobre o conto que mandei na última edição. Como é algo bem diferente do que costumo escrever, eu estava meio apreensiva, mas amei saber o que vocês acharam — e as dicas também pra melhorar o texto. Espero conseguir fazer mais disso aqui.
Bem, hoje quero dar uma desabafada sobre mulheres transfóbicas que tiraram minha paz de espírito na última semana. Porque não consigo conceber na minha cabecinha como esse povo existe. E tem as famigeradas indicações. Espero que gostem. :)
A mulher imbecil
Não caia na pira do feminismo liberal branco da propaganda de creme hidratante. Se apertar um pouquinho a cabeça da mulher que acha que feminismo é isso, você vai ver que ela não consegue ir muito longe.
Semana passada recebemos um comentário no perfil do Ppkansada de uma pessoa assim. A querida veio dizer que eu estava trabalhando pelo patriarcado ao encerrar uma amizade com uma pessoa que se mostrou transfóbica. Porque isso me fez ficar contra outra mulher. Imagina o vazio dentro da caixa craniana desse indivíduo. Apaguei o comentário porque acredito que deixar uma besteira dessas lá é dar trela pra mais gente destilar ódio contra as pessoas trans. A bonita foi lá no e-mail reclamar que não dialogamos, e deletei novamente. Porque eu não dialogo com transfóbica mesmo.
Mal sabe a bonita que feminismo não tem nada a ver com isso. Feminismo não é você acolher todas as mulheres do mundo independente de suas atitudes. Mulher também é escrota, mulher também faz merda. Apontar suas merdas não tem nada a ver com “atender ao patriarcado”.
Acontece que esse tipo de ““““feminista”””” se escora numa luta real e importante para justificar sua própria falta de caráter. Porque pra ela, a pessoa escrota, se colocar no lugar de A GRANDE VÍTIMA QUE PRECISA SER SEMPRE ACOLHIDA é a única maneira de receber empatia. Ela se segura de todas as formas no discurso da sororidade e de que todas as outras formas de vida no planeta estão contra as mulheres para, enfim, se sentirem dignas e importantes. E, enquanto isso, fazem justamente o que os homens fizeram esse tempo todo: oprimem outras minorias. Oprimem transsexuais, oprimem mulheres negras, oprimem qualquer coisa que pareça ameaçar o lugar de “vítima” que essa mulher ocupou e do qual tanto gosta — e onde ela é a maior vítima. Somos vítimas? Somos, mas não somos só isso e não devemos nos resignar a esse lugar.
Se eu chego pra essa pessoa e digo “ow, você é imbecil, ouve a merda que você tá dizendo”, ela vai colocar a armadura da sororidade para tentar virar o jogo. Como você ousa dizer para uma mulher que ela está errada depois de tantos anos de opressão patriarcal????? VOCÊ TRABALHA PARA OS HOMENS! Como se o fato de ter nascido mulher nos tornasse especial, acima de qualquer vida em nome da nossa união contra o mundo dos homens.
Porra, vai aprender a ser gente, viu? Achar que você está sendo amaçada pela existência de uma mulher trans demonstra uma falta de autoconsciência gritante. Uma burrice fenomenal. Burrice essa evidenciada por todos os argumentos que essa galera usa para tentar se colocar numa situação de eterna vítima. E por ser uma eterna vitima, tem que ser toda hora acariciada pelas outras mulheres porque todos estão contra elas. Se você chegar com uma indagação, você vira inimiga, amiga do patriarcado.
Se você é assim, tenho só um recado: tira a cabeça de dentro do seu cu e vai aprender a ser gente.
Para ler
O querido Gabriel Trigueiro compartilhou no Insta essa semana esse texto da The New Yorker escrito por um condenado a prisão perpétua falando sobre sua paixão por Taylor Swift. Não sou swiftie e tenho preguiça de swiftie, não negarei, embora curta várias músicas da loirinha. Mas achei esse texto lindíssimo, porque a questão toda é como ele, um cara encarcerado sem contato com o mundo, se sentiu representado nas letras da Taylor. A arte é uma coisa doida, né? Leia aqui.
A The Atlantic fez esse compilado de textos sobre não fazer nada. Que é o que eu mais gosto de fazer na vida. Pra mim, tem que ter aquele momento de preguiça em que não quero lidar com obrigação alguma. E os melhores fins de semanas são aqueles totalmente livres para eu escolher fazer alguma coisa ou não — geralmente não faço, só descanso. Numa época em que a gente tem que fazer alguma coisa o tempo todo, fazer nada é uma revolução (pequena, mas é).
Essa edição da news da Marie me deu uma vontade de revisitar fotos antigas para resgatar as sensações daquela época. É lindo. Vem ler.
Outras dicas
Assisti Killer Sally, na Netflix, uma minissérie de três episódios que conta a história de Sally McNeil, uma fisiocultarista que matou o marido nos anos 1990. O documentário trata da violência que ela sofreu de Ray, o marido que também era fisiculturista, e a maneira com que o caso foi abordado na época, colocando-a no lugar de violenta e abusiva por ser uma mulher forte. O doc também evidencia como a violência é um ciclo repetitivo: Sally sofreu violência da família, do marido, e o ciclo se repetiu, em parte, com seus próprios filhos que também viveram relações abusivas na vida adulta.
Esse vídeo aqui sobre entropia do canal Veritasium me deixou bem pra lá das ideias. Ele explica de um jeito bem didático o que é a entropia e como a nossa vida depende dela. E, ao mesmo tempo, a entropia depende da vida para acontecer. É uma parada confusa, mas que faz todo o sentido, e dá a real sobre o que é o mundo, né? A gente tá aqui vivo pra morrer depois, e é isso.
Também na Netflix vi Explorando o desconhecido: a máquina do tempo cósmica, que fala sobre o telescópio James Webb, desde a sua concepção até seu lançamento e as imagens que ele vem revelando do universo. Fazer ciência é um desafio gigantesco mesmo, porque o trabalho e a grana que esse telescópio exigiu pra ser construído e posto lá longe… E a sorte de tudo ter dado certo, de agora podermos ver galáxias extremamente distantes. Vão ser mais de 20 anos de atividade, imagina o que vai rolar até lá…
Xepa do Engajamento
Teve Santa Reclamação de Cada Dia com participação de uma das milhares de pessoas lesadas pela 123 Milhas. Vem ouvir:
Que orgulho foi fazer esse episódio do Ppkansada com a Joana Cannabrava falando sobre exercícios físicos e saúde. Fiquei feliz demais com o retorno do pessoal com esse episódio. Vem ouvir aqui:
O Clubize de setembro vai ler Os perigos de fumar na cama, de Mariana Enriquez. Para participar dos encontros, é só assinar por R$10.
E ficamos por aqui. Obrigada por lerem mais um vagabunda, e se quiserem contribuir com o trabalho desta blogueira, cogite deixar seu apoio simbólico aqui mesmo no Substack assinando a newsletter. O conteúdo segue sendo gratuito — porque acho que ninguém vai querer me ler se for pago, rs —, então é só aquela contribuição de brotheragem mesmo. Só se quiser. Ninguém é obrigado. Hehehe.
E para encerrar, uma foto especial do cão Batista em toda a sua alegria. Até a próxima!
Te amo cão Batista, te amo