Olá!
Quero começar dizendo que fiquei feliz demais com a recepção da primeira news nesse novo retorno. Obrigada todo mundo que curtiu e compartilhou por aí. <3
Hoje tô finalizando essa edição com aquela gostosa sensação de que alguma merda vai acontecer e que vou chorar horrores. É mercúrio retrógrado? É síndrome da impostora? É a depressão dizendo um oi de leve me lembrando que ela tá aí? Sei lá, mas enfim. Vamos que vamos porque o mundo tá nem aí pros meus olhos lacrimejando.
(Abrir esse parênteses pra dizer que é só TPM, me toquei depois que agendei a news.)
Nessa edição quero falar de algumas leituras que fiz nos últimos meses e que acabei não falando muito no Instagram. E também vão ter as famosas dicas de leituras, de coisas pra ouvir e pra ver. :)
Leituras dos últimos tempos…
Tô meio parada com as resenhas em vídeo lá no Instagram, já que Mark Zuckerberg não colabora com nada naquela porra. Claro que continuarei fazendo, mas enquanto não sento a bunda na cadeira e gravo, vou deixar aqui alguns comentários breves sobre os últimos livros que li. :)
É assim que você a perde, de Junot Díaz (tradução de Flavia Anderson)
Escolhi esse livro para ler em fevereiro lá no Clubize, e foi uma leitura deliciosa.
Yunior é um imigrante latino nos EUA e já começa o livro dizendo:
“Até que não sou mau sujeito. Sei o que parece — que estou na defensiva, e é balela —, mas pode crer. Sou um cara igual a todo mundo: fraco, cheio de defeitos, mas, basicamente, do bem. A Magdalena, porém, discorda. Ela me considera o típico dominicano: um sucio, um babaca.”
Pois é, é um livro de um homem tentando justificar, se desculpar, processar o que aconteceu com seus casos amorosos. Magdanela o acha um sucio por ter sido traída por ele, comportamento que irá se repetir em outros relacionamentos. Mas por trás disso, Yunior fala mesmo é de identidade e família. Crescendo com a mãe e o irmão mais velho que lhe serviu de exemplo na vida, Yunior tinha dentro de si a vontade de não repetir os padrões dos outros homens da família — principalmente de seu pai, grande traidor e que os abandonou logo após chegarem no país.
O que Díaz faz é trazer as memórias de Yunior à tona para entender sua própria personalidade. A incapacidade de não trair, as relações turbulentas, as paixões ardentes. E cada uma de suas “pisadas na bola” têm ligação com o que ele cresceu vendo os homens de sua família fazer. Pois né, como quebrar esse ciclo de relações merda sendo que o cara viveu vendo homens fazerem merda a vida toda? Pode parecer, de início, que Yunior que tirar seu corpo fora, diminuir os seus feitos negativos. Mas não é isso o que É assim que você a perde faz. É um livro gostoso de ler, engraçado, mas também bem certeiro ao meter o dedo nas feridas.
A tirania das moscas, de Elaine Vilar Madruga (tradução de Carla Fortino)
Lançamento da Instante que também li lá pro Clubize, é o primeiro livro de Madruga, autora cubana, publicado aqui. É quase que uma fábula sobre uma família disfuncional que vive em uma ilha infestada de moscas, quente, e sob o regime ditatorial do General Bigode. Nesta família há o pai, braço direito do general, a mãe, uma psicóloga, e os três filhos: Cassandra, Caleb e Calia. E é através dos filhos que a autora desenrola as tretas dessa família.
Porque não há amor entre eles. O pai apenas liga para sua posição na hierarquia do governo, que agora está sob risco. A mãe interage com os filhos como se fosse sua terapeuta, enquanto Cassandra e Caleb imploram para que ela haja como uma mãe de verdade — aliás, tem um trauma grande por trás disso aí também. E os próprios irmãos não se suportam, com Cassandra e Caleb brigando o tempo todo, e Calia apenas fazendo seus desenhos sem falar nada.
Elaine Vilar Madruga explora o realismo mágico desse cenário fictício, mas real, em que o totalitarismo e a opressão de uma sociedade é refletida dentro da própria casa. Cassandra, a mais velha, é trancafiada em casa pelo pai por conta de seu desejo sexual por objetos. Caleb exerce um poder tenebroso sobre os animais, que se aproximam dele para morrer. E Calia, a caçula de três anos, age com indiferença a todos, se concentrando em seus desenhos realistas. Adorei como, logo de cara, Cassandra já taxa a família como campeã olímpica na modalidade disfuncionalidade, porque é isso mesmo o que eles são. Não há nada de normal na interação entre eles, e por isso mesmo essa história foi tão legal de ler.
Luísa (Quase uma história de amor), de Maria Adelaide Amaral
Outro lançamento da firma que eu achei muito bom. Luísa é um livro de 1986 que foi premiado com um Jabuti de melhor romance. É o tipo de narrativa que me deixa animada, pois apesar de protagonizar e dar nome ao romance, a conhecemos através de cinco pontos de vista diferentes: Raul, seu amigo gay; Marga, sua amiga feminista; Rogério, chefe que é apaixonado por ela; Mário, seu ex-marido; e Sérgio, colega de trabalho com quem teve um caso.
Cada capítulo traz um pedaço da história de Luísa, focando no período de seu caso com Sérgio, sua separação e também remetendo ao relacionamento com Paulo, militante contra o governo militar que foi assassinado. O livro se passa nos anos 1970, então muito dos dramas da ditadura aparecem na história.
E assim, que personagem a Maria Adelaide Amaral fez. Ninguém sabe, ao certo, quem é e o que quer Luísa. Ela é dessas personagens misteriosas, que é aberta a todos, mas também mantém seus segredos. E eu gosto desse tipo de personagem: cheia de falhas e de acertos, que exerce um magnetismo em todos os outros, e esse magnetismo passa para você. Porque queremos entender também quem é Luísa, o que ela gosta, o que ela odeia, quem ela ama, se ama mesmo. Gostosíssimo de ler, recomendo demais.
O clube dos jardineiros de fumaça, de Carol Bensimon
Terminei na última segunda de ler esse romance que estava há anos na minha pilha de livros. E que arrependimento não ter lido antes. Ou, talvez tenha sido bom mesmo eu ter lido agora que virei uma maconheira. O livro é protagonizado por Arthur, um professor de história que deixa o Rio Grande do Sul depois de um escândalo que o fez perder o emprego. Foi para Mendocino, condado na Califórnia famoso pelas suas falésias e sequoias gigantes. O objetivo dele é ir se integrando na comunidade para trabalhar nas plantações de maconha da região.
Quando comecei a ler O clube dos jardineiros de fumaça eu senti que seria aquele tipo de livro que me envolve por completo. Pelo tema mas, principalmente, pela maneira que a Carol Bensimon conta a história: um texto claro que explora os conflitos internos de cada personagem, que apresenta bem os contextos históricos e sociais, que descreve com cuidado os cenários. Pensei na hora: isso aqui é tipo Donna Tartt, tô sentindo o contentamento que senti quando li A história secreta. Pela densidade que o livro tem, sabe?
Mas enfim, Arthur vai aos poucos conhecendo o pessoal da Califórnia e estabelece relações com Tamara, uma mulher mais velha que ele com quem fica amigo e tem um interesse romântico; com Sylvia, dona do AirBnB onde ele passa um tempo, professora aposentada que foi em busca de tranquilidade em Mendocino. Conhece Dusk, velho morador de uma das fazendas hippies do início dos anos 1970 onde se plantava maconha. Noah, que trabalha em uma das plantações atuais. Enfim, enquanto Carol vai desenvolvendo essas relações todas, por trás ela descortina o background de cada um desses “jardineiros de fumaça”, principalmente do próprio Arthur para entendermos como e por que ele foi parar lá.
E tudo isso permeado com a história da plantação da cannabis nos EUA, a guerra contra a maconha, os movimentos para a sua legalização. É muito, muito legal como Carol vai explicando esse tema dentro de uma ficção muito bem amarrada. Sério, eu fiquei maravilhada com esse livro.
Para ler
Esse texto aqui do Culture Studies sobre a cultura atual de trabalhar toda hora, de sempre fazer mais, de ser produtivo, é muito bom ao falar sobre como isso também se relaciona com a baixa adesão das pessoas aos sindicatos. Porque agora, com internet, com gurus do trabalho, coaches, bilionários excêntricos, cresceu demais essa coisa do trabalho ultrapassar as suas horas sem ninguém ganhar a mais por isso, com a falsa impressão de que trabalhar até morrer vai te trazer algum sucesso. E a gente está muito nessa coisa de exaltar o cara que batalha, que faz sua fortuna do zero, que não tira folga… O que cria uma cultura de gente fodida da cabeça e da saúde por conta das horas excessivas de trabalho, porque se você não trabalhar mais do que os outros, você não será promovido. Ah, que grande falácia, né? E é esse pessoal que insiste que sindicatos são inúteis, sem se tocarem de que não ganharão nada além de desgraçamento mental por trabalharem demais.
Vale dar uma lida nesse texto aqui do João Luís Jr. sobre quadrinhos na Conforme Solicitado. Porque né, com o advento da candidatura de Maurício de Souza na Academia Brasileira de Letras — ele não ganhou —, vieram os velhos brochas da literatura dizer que quadrinhos não são, oh, literatura. Ah, vai te cagá, né? Vontade de bater mesmo na cabeça de um cidadão deles com uma graphic novel gigante.
Aqui vai ser um PARA VER: com toda essa treta da PL 2630 rolando, é bom ver esse vídeo do Guilherme Boulos explicando pra que o projeto de lei serve. O que precisamos que seja urgentemente aprovado, dado a reação das big techs com essa PL: Google impulsionando anúncios contra o projeto, Twitter derrubando perfis e hashtags a favor do projeto, Spotify metendo anúncio no meio de seus podcasts apelando para que o ouvinte seja contra a regulamentação das redes sociais. Ou seja: se eles são contra, nós temos que ser a favor, porque somos explorados de inúmeras formas por essas empresas que possuem zero transparência quanto a seus negócios. Não sabemos o que fazem com os nossos dados, não recebemos sequer o conteúdo que queremos receber dentro das plataformas. Somos realmente reféns delas, e não pode ser assim. Não pra um negócio que afeta tanto as comunicações e a sociedade.
Outras dicas
Assisti O amante de Lady Chatterley na Netflix e olha, achei legal? Nunca li o romance, e já que tava entediada querendo ver um filme — é foda quando eu chego ao ponto de querer ver um FILME —, acabei indo nesse inspirada pela thumb safada. Às vezes a gente só quer ver uma linda bunda masculina na nossa TV, não é? E foi isso: belíssima bunda do cara que faz o amante da senhora em questão.
Saiu o novo álbum do já citado The National, que inspirou o texto da última news, The First Two Pages of Frankenstein. Ouvi só uma vez, e posso dizer que fiquei feliz. Gostei das músicas, mesmo sendo um The National mais quieto, menos grosseirão. Vi que um povo achou chato, mas pra mim segue sendo ótimo. Entre as favoritas nessa primeira audição estão “Eucalyptus", "Tropic Morning News", “The Alcott” e “Alien".
Outra coisa pra ler, mas é que comecei agora e acho super justo já dar essa indicação: A máquina do caos, livro do Max Fisher (tradução de Érico Assis), que fala sobre “como as redes sociais reprogramaram a nossa mente e nosso mundo". Aí ele vai abordar justamente o poder que as redes sociais concentram sobre nossas vidas e seu papel fundamental no impulsionamento de discursos de ódio, teorias da conspiração e todo esse lixo tóxico que invadiu a internet. Estou só no primeiro capítulo, onde ele tá mostrando como o Facebook privilegiava conteúdos antivacina, criando essa massa de gente burra que se retroalimenta de suas próprias fezes, coisa que só pode ser proporcionada por quem? Por ela, a rede social controlada por algoritmos viciados que são controlados por gente escrota.
Xepa do Engajamento
Dia 11 de maio, a partir das 19h, vai rolar o lançamento de O inconsciente corporativo e outros contos, do Vinícius Portella, na livraria Ponta de Lança, aqui em São Paulo, e eu vou mediar o evento! Eita, que medo. Então fica aqui o convite e a dica de ler esse livro que é maravilhoso.
Estreou a nova temporada do Ppkansada, e a gente vai falar sobre autoestima nessa série de episódios temáticos. Pra começar a gente chamou a jornalista Nathalia Braga, maravilhosa, para falar sobre um pouquinho de tudo o que envolve nossa autoestima.
Nos próximos episódios falaremos de cabelo, pelos, pele, inteligência, enfim, tudo o que acaba pegando na nossa autoestima.
É isso, gente. Até a próxima. ;)
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Só livro interessante, mas esse A máquina do caos ai me chamou muito muito a atenção. E fora esses fósseis que teimam em viver como se fosse década de 40, né? Maravilhoso texto, Taizze. o/
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