Xandão fez o que prometeu e derrubou o Twitter (X é meu cu). A revoada de tuiteiros que se formou invadiu o Threads (horrível), o BlueSky (onde estou, aliás) e os cadernos de quem fez piada dizendo que tuitaria analogicamente. Somos uma nação de saúde bem mental que se viu órfã da sua plataforma favorita. Como tuiteira desde 2009, é triste ver esse site que tanto me trouxe gente legal na vida terminar assim, como um delírio de um ex-calvo sem amigos que comprou o site para tentar ser popular entre a pior escória da sociedade.
Mas tá na hora de deixar ir. Nos primeiros dias sem o Twitter no Brasil, o que mais vi lá na rede onde o céu é azul sem fumaça de queimadas foi gente falando que não via a hora de Elon Musk se curvar à lei brasileira para poder voltar para aquele umbral, como se fosse ainda aquela mesma plataforma que mostrava uma baleia fofinha quando estava fora do ar. Um monte de gente refém da dinâmica de reclamar sobre tudo o dia inteiro, de acumular novas indignações e ver o mundo sob a ótica dos doidinhos da internet. Eu me incluo nessa. Até o Twitter cair, eu não conseguia sair dele. Eu sou uma dessas viciadas que não via a hora dessa droga ser cortada para eu finalmente me curar.
Em menor escala quando comparamos com o Instagram e o TikTok, era no Twitter que nossos ânimos inflamados encontravam espaço para se criar. O site, agora, é um grande exemplo de como o ódio é muito melhor para o algoritmo e para o engajamento que os carentes de atenção (todos nós) tanto precisam. Eu não sou good vibes, nem gosto de gente muito feliz, mas não posso deixar de admitir que aquilo lá saiu dos eixos há muito tempo, e não era mais o espaço legal para falar com os meus amigos e fazer piadas duvidosas com eles. O Twitter que a gente conhecia morreu e já se decompôs. Agora restou só o chorume.
Não tem como pensarem voltar para aquele site caso Elon Musk pague suas dívidas com a lei brasileira. Ainda será o site do Kiko do Tesla, e eu não quero mais dar audiência para esse homem. Nem você, cracudo da internet, deveria fazer isso. A gente tá com uma oportunidade gigante nas mãos de se livrar de uma das redes sociais mais tóxicas que existem no momento. Quem teve a coragem de usar um VPN e espiar o que anda rolando lá agora, voltou com relatos de apologia ao nazismo rolando solta, soltíssima. Perfis de mulheres com alguma fama lá dentro estão sendo atacados, deep fakes com suas fotos estão sendo feitas. Os red pills estão se sentindo os machos alfas porque não tem mais “lacração” e “mimimi". O deus Elon finalmente entregou a terra prometida, onde liberdade de expressão e liberdade de cometer crimes são a mesma coisa.
O Twitter nem se chama mais Twitter, pra que o saudosismo? Agora ele é uma espécie de 4chan piorado. Uma pessoa com bom senso não pode querer que aquilo volte para continuar a entrega das publis que fechou meses atrás. É questão de caráter, sabe? Assim como recusar anunciar casa de aposta e jogo do tigrinho: não há dinheiro que compre a paz de espírito de não estar contribuindo com a derrocada alheia. A não ser que a derrocada seja a de Elon Musk. Essa, a gente tem que apoiar.
E agora que estamos livre disso, o povo quer que o BlueSky, a rede com mais potencial pra obrigar a gente agora, se torne um novo Twitter. Povo reclamando que lá não tem Trending Topics, porque a pessoa certamente não tem capacidade de comentar algo por conta própria, e tem que estar se aparecendo no assunto do momento porque o engajamento é rei. Povo querendo que lá tenha vídeo, como se o dedo fosse cair se clicar num link para o YouTube. Povo dizendo que sente falta de se informar por lá, como se não fossem livres o suficiente para abrir um portal de notícias, ver jornal na TV, ligar o rádio…
Povo que não foi capaz de abrir as configurações do app para ver como pode filtrar aquilo que não quer ver para ter uma experiência menos horrível da que tinha no antigo site. É como se toda a merda jogada na timeline nos últimos anos do Twitter fosse internalizada a ponto da galera sentir falta do gostinho dela. Engraçado, né, tanto julgamento lá pro póbi do Gustavo Scat por causa das suas preferências sexuais, mas não veem a hora de se lambuzar novamente no esgoto do Twitter.
Por favor, se o Twitter voltar, não volte. É a nossa chance de parar de comer bosta, de aprender a usar as redes sociais de um jeito um tiquinho mais consciente. Até o Threads com sua positividade tóxica é preferível ao playground de incel que o Elon Musk construiu.
Ai, gente, a ida pra SC não me deixou muito tempo para escrever essa edição direito, mas só queria externalizar meu incômodo com quem quer que o Twitter volte. Aquilo não tem mais salvação, superem.
Para terminar melhor, fiquem com uma foto do Duque, cão da minha tia lá em Witmarsum. Mas no meu coração, ele se chama Garrincha. Veja por quê:
Tchau.
quem come merda todo dia, quando come coisa boa sente um gosto estranho na boca. nos livramos de uma praga!
o melhor texto que li sobre o fim do twitter, já estou fora da rede a 3 anos para cuidar da minha saúde mental e sou muito a favor de todos saírem de lá o quanto antes. Uso twitter desde 2009 e lá sempre foi meu refúgio, depois de anos vi como isso deteriorou as coisas legais da internet, será que o futuro vai ser essa normalização de boçais ganhando audiência ou to ficando cringe demais?